sexta-feira, 27 de abril de 2012

Eu amo você

Eu amo você! Pronto, rompam as cortinas, parem as máquinas, icem as velas, corram para a proa, armem o convés! Ele declarou seu amor! Que beleza. Agora os neurônios navegarão em sinapses plácidas, os ferormônios serão canalizados, o sorriso banalizado e a vida será um um mar de rosas. Sei lá, me bateu uma Fernando Pessoíte imensa hoje, ao recordar poema, de uma humanidade instigante, quando ouvi esta declaração entre dois amantes ao romper da tarde.

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.).

Autor: Fernando Pessoa, com o pseudônimo de Álvaro de Campos, publicado em 1935.

É isto aí!

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